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Dilema de médium

Publicado em 14 de agosto de 2018 por Calunga

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O Espírito Calunga narra objetivamente sobre os desafios do desenvolvimento mediúnico e sobre os obstáculos enfrentados pela equipe espiritual, impostos pelos próprios médiuns e dirigentes das casas espiritualistas em que atua.

"Sou médium de berço. Estou aqui porque fui a uma mãe de santo e ela me disse, entre várias coisas, que preciso desenvolver minha mediunidade. Aliás, segundo falou, muito do meu sofrimento advém de minha recusa em trabalhar com meus guias. Por isso é que estou ‘apanhando’ dos espíritos."

É assim que grande parte das pessoas chega à casa espírita, acreditando estar submetida a sofrimentos mil por causa da demora em desenvolver ou educar a mediunidade. Geralmente tem bastante pressa em atuar como médium, como se tal faculdade pudesse ser treinada da noite para o dia, após meia dúzia de aulinhas, e exercida com responsabilidade sem os devidos cuidados e precauções.

É claro que num grande número de lugares essa ansiedade é considerada normal, produtiva, e alguns até dizem que funciona. Assim, logo que toma conhecimento das supostas faculdades do médium, que costuma chegar cheio de queixas e exigências, o dirigente o coloca para “receber espírito na mesa mediúnica”.

Se sua casa não tem uma mesa mediúnica, não se preocupe: um dia ela terá. Quase todo centro espírita que se preza tem de ter uma, que fica dentro da sala onde se conversa com os espíritos. Deve ser uma mesa dotada de poderes sobrenaturais…

Diante do surgimento do médium em polvorosa e do dirigente despreparado, está feita a confusão. Mas, ao contrário do que alguém talvez imagine, posso afirmar, sem grande chance de erro, que muitas reuniões desse tipo pretendem ter um caráter sério. Mesmo que nem ao menos se saiba quem são seus dirigentes espirituais…

Já vi, em alguns lugares, ser promovida disputa entre alguns desses nomes de mentores que estão em alta, no topo da lista dos mais elevados do mundo espiritual. Então, os trabalhadores encarnados realizam uma eleição, e, uma vez escolhido o dirigente espiritual, coloca-se um São-sei-lá-o-quê na frente do seu nome, e pronto! Olhe o mentor escolhido dando comunicação e traçando a metodologia de trabalho…

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Parece brincadeira ou anedota, mas é assim que um número considerável de grupos trata a relação entre os habitantes dos dois lados da vida. Observa-se um festival de situações pitorescas, que incluem a caracterização de algum dos filhos do dirigente encarnado como “médium de berço”, uma vez que tem “grande conhecimento doutrinário” – afinal, leu meia dúzia de romances espíritas.

E, para compor o clima, entra em cena o médium principal. Sim, é aquela figura que os espíritos de plantão – ou espíritas? – elegeram para transmitir as instruções sempre certeiras, que de preferência devem ser acatadas por todos. Diga-se de passagem, os tais mentores somente se manifestam por meio desse médium; uma vez que ele é o eleito, não é possível que os guias vulgarizem sua presença, apresentando-se através de qualquer outro. É considerado como que um porta-voz exclusivo dos espíritos do bem. Morre o médium, morrem as comunicações do mentor, e o centro, não raro, fecha as portas.

Temos de nos lembrar também dos ritos de preparação que antecedem as reuniões, comumente complexos, vazios ou fantasiosos: não comer carne, não fazer sexo, passar o dia de maneira tranquila e distante de qualquer situação que possa lhe tirar do sério, entre outras coisas. Ou seja, diante de tantas exigências, melhor é não sair do quarto, permanecer trancado, exilado, sem contato com ninguém mais. Mas mesmo assim é possível que não se consiga cumprir algumas das proibições… Já sei: melhor é não acordar. Isso! Dormir durante todo o dia, até a hora de tomar banho e sair para a reunião.

É incrível como certas recomendações ou sugestões que até poderiam ajudar, dependendo da circunstância, às vezes são transformadas em regras inflexíveis e absurdas, impossíveis de serem executadas. Ainda assim, são consideradas importantes por bom número de pessoas, que se interessa em fortalecer o mito de que ser médium significa abraçar algo além do humano; ser, talvez, super-humano. Pare e responda, caso pense em defender a adoção de procedimentos como os que listei há pouco: como deve fazer quem participa de reuniões mediúnicas três ou quatro vezes por semana? Acaso a solução é obedecer a todo esse jejum em caráter semipermanente?

Você pode dizer:

– Calunga, mas você está pegando pesado!

E eu lhe respondo:

– Estou, sim!

Nós, os espíritos desencarnados, enfrentamos cada situação quando precisamos da parceria dos chamados médiuns, em função desses absurdos “doutrinários”… E quando digo “nós, os espíritos”, não pense que são poucos que vivem esses desafios, não! São muitos que se veem nessa situação constrangedora, até aqueles chamados de mentores, geralmente tratados como se fossem santos canonizados, ou mais: almas angelicais.

Ah! Se você visse quanto riem satisfeitos certos espíritos, tipicamente classificados como inferiores… E mais: como se utilizam dos efeitos de certos comportamentos e ideias cultivadas ou disseminadas pelos encarnados. Isso mesmo. Eles usam as vibrações irradiadas tanto pelas crenças quanto pelo jeito que muitos exprimem seu pensamento, suas manias, seu preconceito.

A ideia de não macular a suposta pureza original da doutrina espírita é tão avassaladora e castradora que cria certa irritação energética em torno dos que adotam essa postura. Essa peculiaridade energética ou irritabilidade de fluidos que advém da celeuma que se produz é plenamente utilizada e dinamizada por aqueles que querem o declínio das ideias esclarecedoras do espiritismo.

Portanto, diriam eles: “Salve o patrulhamento doutrinário! Vida longa à rigidez, à atitude de fiscal das práticas e tradições espíritas!”. E eu digo: Deus me livre! Vamos cada um fazer o melhor que pudermos, como sabemos, amando mais e nos instruindo na caminhada.

Médiuns que denotam falta de maturidade, estrutura e conhecimento são levados a abraçar projetos de salvação ditados e mantidos por dirigentes encarnados ou desencarnados, ou mesmo por suas ideias pessoais. Como não conseguem alcançar as metas fantasiosas e até absurdas que traçam, veem nascer em si o fantasma do sentimento de culpa. “Eu pequei! Minha culpa, minha máxima culpa!” Aos poucos, de recriminação em recriminação, a culpa religiosa vai tomando o lugar do prazer de viver. Muita coisa que deveria ser vivida ou motivada pelo prazer de exercitar algo que traz constante aprendizado torna-se um fardo pesado de suportar.

Há aqueles que continuam indefinidamente a “árdua tarefa de salvar irmãozinhos das trevas”, encarando da mesma maneira o trabalho, ano após ano, década após década. São insensíveis a qualquer visão mais ampla ou renovada da vida espiritual, furtando-se ao dinamismo inerente a tudo, principalmente na atualidade, em que as mudanças ocorrem em ritmo acelerado em toda área de atuação humana.

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Outros se tornam médiuns de turismo – aqueles que passam de casa em casa, em busca do centro ideal. Procuram coisas que não existem, como a perfeição, o centro mais espiritualizado, o médium mais confiável, o mentor mais elevado. Exigem compreensão irrestrita de suas falhas, mas não estão dispostos a compreender as limitações dos companheiros e da administração.

Certo é que grande quantidade de médiuns e trabalhadores espiritualistas chegará ao mundo dos espíritos com a sensação de dever não cumprido. São tantas culpas e desculpas, tantos defeitos encontrados em todos e em toda parte, que não acham tempo de construir algo de real e genuíno em suas vidas.

De minha parte, posso ser negro, ex-escravo, considerado espírito de baixa linhagem por alguns, mas tenho aprendido o valor de uma equipe de trabalho na qual todos, sem exceção, se colocam na posição de estudiosos e aprendizes. Enfim, somos todos experimentadores da ciência do espírito, e cada dia ou noite de convívio se transforma em oportunidade de fazer melhor, sem cobrar do outro aquilo que nenhum de nós poderá oferecer.

 

Texto extraído do livro Você com você, ditado pelo espírito Calunga e psicografado por Marcos Leão

Calunga, com uma característica peculiar e sua forma irreverente de ser, propõe uma sabedoria de vida simples para enfrentar e resolver problemas do cotidiano. Sempre visando a paz, tranquilidade, harmonia e crescimento espiritual, dentro das casas espíritas é reconhecido pela capacidade de trazer alegria e esperança a pessoas que estão atravessando momentos de grande sofrimento ou amargura. Através de seus textos reconfortantes é capaz de irradiar sentimentos que são verdadeiros bálsamos para pessoas deprimidas ou presas a situações de grande tristeza. Esse é o Calunga!

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